sábado, 3 de outubro de 2009

Comentário de Maurício Kubrusly no Disco "Série Música Brasileira Vol.1 - Codó" (1983)



O jovem Clodoaldo era pescador, como seu pai, no arraial do Cairu, lugar de nome lindo perto de Salvador: Cairu de salinas das Margaridas.

Com tábuas de caixote construiu seu primeiro violão. E conseguiu mais dinheiro tocando para turistas do que manejando redes e remos. Largou o mar, ficou com o violão. Parece sina: morreu como se tivesse tocando mas para turistas, gente que ouve, da um dinheiro, esquece e vai embora para sempre. Porque nós, brasileiros, nunca aplaudimos Codó o tanto que ele merecia, com aquele seu jeito diferente e “errado” de mexer nas cordas do violão.

Maurício Kubrusly, 1983.

Comentário de Zuaza Homen de Melo no Disco "Série Música Brasileira Vol.1 - Codó" (1983)


Um mestre do violão em todos os sentidos – basta mencionar um dos seus discípulos, Baden Powell – Codó pertence a essa categoria de músicos que ficam ocultos para o grande público enquanto vivos. Como garoto, por coincidência, também violonista. Depois que morre é que muita gente vai começar a descobri-los. Nesse sentido, os maiores aplausos e total entusiasmo por esta série de discos que se inicia tão bem: evidencia que os responsáveis sabem quem são os bons.

Zuza Homen de Melo, 1983.

Comentário de Nalvinha (filha de Codó) no Disco "Série Música Brasileira Vol.1 - Codó" (1983)



Codó era um homem muito forte espiritualmente, de uma personalidade marcante. Um homem generoso, talentoso, grande amigo e grande pai.

Um homem simples de um coração enorme e muito ingênuo, porém, com uma alma tão bela, que superava tudo isso.

Codó era um grande artista, dotado de grande talento musical, qual demonstrou, tocando seu maravilhoso violão, sem nunca ter ido a escola.

Era um músico completo, um romântico. A maior parte de sua vida, viveu intensamente inspirado, compondo suas músicas. Tinha muita afinidade pelo mar.

É por tudo isso que ele era, que eu o amei e continuarei amando, mantendo viva dentro de mim a sua música, sua arte e sua energia.

Nalvinha, 1983.

Comentário de Ary Vasconcelos no Disco "Série Música Brasileira Vol.1 - Codó" (1983)


Creio que só mesmo no Brasil a morte de um grande artista passaria quase desapercebida.

Codó foi violonista como poucos já existiram e um compositor maravilhoso.

Estou certo, entretanto, de que um dia, quando passarmos a prestigiar nossa própria cultura, e não a estrangeira, Codó será venerado por todos os brasileiro dignos desse nome.

Ary Vasconcelos, 1983.

Comentário de Nelson Cavaquinho no Disco "Série Música Brasileira Vol.1 - Codó" (1983)



Codó me deixou muitas saudades. Ele foi sempre um grande amigo, bom compositor, grande artista. Era uma criatura muito boa, com um coração enorme. Fizemos muitos shows juntos e estávamos pensando até em gravar um disco. Infelizmente a morte nos separou!!

Nelson Cavaquinho, 1983.

Comentário de Elizeth Cardoso no Disco "Série Música Brasileira Vol.1 - Codó" (1983)


Codó era meu amigo particular, amigo da família, uma figura humana muito querida.

Um artista de muita sensibilidade e um grande violonista.

Era um homem simples e talvez, por isso não lhe deram o valor que merecia dentro da MPB.

Elizeth Cardoso, 1983.

Comentário de Carlos Codó (filho de Codó) no Disco "Série Música Brasileira Vol.1 - Codó" (1983)



Codó era tão musical que o nome Codó resulta num compasso dois por quatro. Um homem forte e corajoso que sempre conseguia transformar os seus momentos de alegria e de tristeza em belas composições musicais. Encerrou sua vida feliz. Feliz porque extraiu de sua alma centenas e centenas de composições carregadas de um brasileirismo que só ele mesmo sabia dar; e por ter deixado dez filhos vacinados contra a não musicalidade.

Como o que sobrevive de um artista é a sua alma, através de sua obra, eu acho que chegou o momento dos brasileiros conhecerem e reconhecerem o seu trabalho antes que a sociedade moderna o enterre definitivamente.

Meu pai era um artista que tinha a alma verde, amarela, azul e branca. Se dedicava a compor músicas em homenagem a seus filhos (caso de “Valsa Lena” – Minha irmã – Gravada por Paulo Moura) e a seus amigos: abraçando Sivuca, um abraço no padre, abraçando Bonfá, Jacó, Nazaré e muitos outros, tudo que diz respeito à terra Brasil.

É por esse amor que ele tinha pela vida, pelo mar, pela arte, amigos, músicos e pela herança genética que se chama música que ele deixou para seus filhos, que eu dedico o meu violão, a minha música, o meu amor, o meu carinho pra ele.

No desejo de preservar o seu trabalho...

Do seu filho Carlos Codó, 1983.

Comentário nº 2 de Rogério Duprat no Disco "Série música Brasileira Vol.1 - Codó" (1983)


Codó

Repórter dia-a-dia do povo, compositor de fôlego e, acima de tudo, um romântico. Assim é Clodoaldo de Brito – Codó - , baiano de arraial de Cairu de Salinas das Margaridas, onde nasceu em 18 de Setembro de 1913, o mesmo ano em que nasceram dois monstros sagrados da cultura popular brasileira, Ciro Monteiro e Vinicius de Morais.

Antes de ser músico foi pescador e o seu primeiro instrumento foi uma viola que ele mesmo fez aos nove anos com tábuas de caixote de querosene e cordas de piaçava.

Aos 10 anos aprendeu cavaquinho e com 17 animava as festinhas de sua cidade.

Músico já conhecido na Bahia, nos anos 30, começou a trabalhar em rádio, em Salvador: rádio comercial, rádio clube, onde conheceu Caymi, e rádio sociedade, onde era ouvido por Caetano, Gil, Antônio Carlos e Jocafi, influenciando, de alguma forma, a música dos baianos.
Em 1951, lançou “Zum, Zum” (zum, zum, zum, capoeira mata um...), gravado por Vanja Orico no Brasil e, logo em seguida na Alemanha.

Ainda em 1951, compôs “Iaiá de Bahia” feita especialmente para o filme argentino Maria Madalena e posteriormente gravada por Aracy Costa.

Suas músicas de maior sucesso, além de “Zum, zum” são “Taiti”, gravada por Rosinha de Valença na Alemanha, e “Tim dom dom”, que Jorge Bem tornou famosa e que faz parte do LP Brasil 66 de Sérgio Mendes e, hoje, com mais de 40 gravações em todo o mundo. Aliás, essa música, feita em parceria com João Mello, chegou ao terceiro lugar no “Hit-Parade” americano na época de seu lançamento.

Ao todo Codó possui mais de 90 músicas gravadas no Brasil por Jorge Bem, Nara Leão, Sérgio Mendes e Elizeth Cardoso, entre outros e gravou, ele próprio oito LPs e compactos, sempre ao lado de músicos renomados e cantores de primeira linha.

Este LP não poderia fugir a regra a seu lado estão o ótimo violão de Carlinhos Codó, músico, professor de violão, arranjador, e a bela voz de Nalvinha, dois de seus filhos, sem contar o verdadeiro esquadrão de músicos que os acompanham.

Este é Codó, compositor, músico, arranjador, cantor, cantador e encantador. Um artista completo, dono de uma sensibilidade forte e marcante.

É com essa sensibilidade que mostra através de sua arte, toda a grandeza de sua alma.

Codó da Bahia...

Pinta logo a imagem folclórica do cantador das praias ou sertões baianos, cheirando a peixe e suor, com suas canções primitivas e outras idiossincrasias.

Nada disso. Codó é o homem da cancha, da tarimba. Músico experiente, calejado pelo trabalho profissional do rádio e nas rodas musicais da Bahia e do Rio. Embora portador de uma deliciosa voz de cantador, ainda agora aos 70 anos (como a gente pode sentir no “Canoeiro”), o que Codó é mesmo é um tremendo de um instrumentista. Bate um violão solo, que as vezes parece até cavaquinho ou bandolim, com tranqüilidade e agilidade incríveis, de deixar qualquer garotão de boca aberta.

Como criador, esquadrinha quase todas as formas populares que viveu. O que é mais apreciável no Codó é essa capacidade de diversificação, fruto de sua rica experiência de músico profissional. Este disco é, de fato, uma amostra desse seu jeito fácil de inventar em cima de todas as modalidades de música do seu país. Não se trata de um músico regional e repetitivo, amarrando aos cacoetes e limitações de um único jeito de fazer música. Codó entende e aplica o rebolado de todas as músicas, com dignidade e talento espantosos. Valsas, Choros, canções, sambas, cantos praieiros. Enfrenta tudo. E todo com a mesmo correção, sacando os caminhos peculiares a cada forma, estilo, quebrada, jogo de cintura. Fato raro, mesmo em músicos da qualidade dele: Exibe sua aprimorada execução de virtuose sem exibicionismo. Vale dizer: Mostra uma técnica sofisticada, em passagens de grande dificuldade, sem que a gente perceba, como se estivesse tomando um copo d’água. Ou desfiando seu tranqüilo papo, em que conta pra gente suas experiências de vida e de músico.

Trabalho com Codó não é trabalho, é divertimento.

Rogério Duprat, 1983.