quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Comentário de Rogério Duprat no Disco "Série música Brasileira Vol.1 - Codó" (1983)


Tá certo, a gente sabe da morte e vive quase esperando. Ainda mais um cara de 70 anos. Mas isso não podia acontecer agora com Codó. Não agora. Depois de uma vida de músico meio de ribalta, tocando e criando, esperando pouco ou nada, Codó gravara um LP de músicas suas, um convite e uma homenagem da Glasurit. E aí que, antes que ele tivesse a satisfação de ver e ouvir essa bolacha, vem a maldita ceifadeira e o leva, assim de repente, como quem não quer nada e quer tudo. E o sorriso elevado do Codó? E aquela humildade soberba, de quem já viu e ouviu e sabe que ninguém é muita coisa e todos são tudo? Aaaa, que pena! Codó estava feliz e ia ficar muito mais. Essa é a palavra: Codó fazia música feliz, os dedos voando no violão, a cara contagiando o ar em volta de felicidade. Fosse no canto triste do canoeiro, nos alegres choros, nos sambas sem compromisso ou no frevo inquieto. Ora, Codó, você tinha de ficar mais um pouco. Pra que ir já, assim sem um aviso, quando ainda tinha festa te esperando? E era de festa que você gostava, e alegria, um bom papo e o violão. A gente queria ver teu sorriso ainda mais aberto quando saísse esse teu disco. Aquele teu jeito de ouvir o que você mesmo fez e tocou, como se fosse de um outro cara, quase com surpresa, meio numa de quem ta vendo a coisa pela primeira vez. O mundo anda triste. Você ainda podia dar uma força. Pena. Nós que ainda ficamos por aqui temos o consolo de continuar lembrando e mostrando você pra muita gente.

Tchau, Codó!


Rogério Duprat, 1983.

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